12 de fev. de 2012

A história por trás do meu guarda-roupas

Minha primeira compra em brechó aconteceu aos 17 anos, tardiamente. Porém a experiência com a reutilização de roupas, calçados, acessórios, bolsas e até moda praia já vinha de berço, com aquela velha e boa fórmula de passar de "prima para prima" ou com trocas e empréstimos temporários entre amigas. Havia também o acesso quase irrestrito aos guarda-roupas da mãe, melhor amiga e irmãos. Crescer com essa liberdade de vestir novos artigos a cada visita de tia e ou ainda, a cada abrir de portas dos irmãos me fez muito bem, com certeza. Felizmente, esta movimentação me possibilitou uma consciência muito ampla e renovável na vida adulta, quando o assunto é "vestir".
Lembro com clareza e carinho de cada uma das fases que declaram de onde veio muito do que penso hoje, sobre o consumo de moda.
Foi uma construção divertida e criativa através dos anos..

As sacolas de roupas das primas.
A cada nova estação, visita ou temporada na casa das primas, sacoladas de roupas eram abertas para ver o que me servia. Dessas grandes sacolas eu adquiri ótimos looks, bem diferentes que os de costume e muitas vezes um tanto quanto excêntricos. Não foi só na infância que reutilizei o que vinha delas, na festa de 15 anos toda a decoração e meu vestido haviam sido utilizados no ano anterior. E no meu casamento, em 2009, alguns destes objetos estavam renovados e presentes novamente.
D. Nilza assina as revistas Criativa e Manequim.
As revistas chegavam, ela lia, olhava, analisava os moldes e depois de escolher o modelo favorito, comprar tecido, e se testava até o resultado final. Boa parte das tentativas foi em peças para sua pequena (eu). Lembro que muitas vezes escolhi o modelo, cor, tecido e detalhes. Adorava...
Seu Chico se aposenta e abre um bazar.
Eu tinha 5 anos quando a pequena loja abriu as portas. Lá dentro havia e há de tudo um pouco. Só para dar exemplo, nunca mais precisaram comprar materiais escolares, meias e calcinhas para mim. Ele fazia viagens ao Paraguai de tempos em tempos, de onde me trazia brinquedos muito legais!! Quando cresci comecei a acompanhá-lo aos atacados, todos com preços muito agradáveis. Naqueles paraísos eu o influenciava a comprar peças de roupas do meu gosto, que por fim levava pra casa com o seu doce consentimento. Foi nessa época que eu aprendi um pouco sobre o real preço das coisas.
D. Nilza faz pinturas em tecidos e objetos de vidro.
Ela sentava, abria a caixa de tintas, escolhia o desenho e pintaaavvvaaa. Eu observava encantada e muitas vezes, metia-me a pintar com ela. Guardamos camisetas tamanho 5, que muito usei. Quando casei, recebi de presente, uma pilha de panos de cozinha pintados e dobrados aguardando por mim através dos anos. Alguns com até 15 anos.
A descoberta da tesoura.
Não sei exatamente em que momento aconteceu, mas consigo ter flashes sobre alguns dos melhores momentos em que, com a tesoura na mão destruí ou reconstruí uma peça que já não me dizia mais nada. Geralmente quando não dava certo eu sofria com os comentários de minha mãe, que questionava “como eu podia destruir assim as minhas coisas?” e por aí vai.. Mas quando deva certo, eu saía usando a novidade na mesma hora. Então ela me olhava, ria e me chamava de louca. (Muitos risos)
Androginia sem consciência?
De uma hora pra outra tudo que havia no meu armário se tornou sem graça e eu fui buscar novidades em outros quartos. Dos meus irmãos eu gostava de vestir os casacos, moletons, cachecóis e mochilas... Mais tarde consegui usar alguns tênis e ganhei permissões para cortar e modificar algumas peças. Delícia!
Da vó para a mãe, da mãe para a filha.
Minha avó materna se foi cedo, das duas avós, era com ela que eu tinha um contato mais intenso. Ela costumava usar vestidinhos florais de algodão com viés colorido, todos costurados por ela. Quando ela faleceu minha mãe ficou com algumas peças do seu guarda-roupas, um cachecol verde grama, feito e usado por ela, durante décadas, hoje está ali no meu quarto e é o favorito. Aqui comigo há também muitas peças antigas da D. Nilza. Peças que eu fui trazendo sorrateiramente. No final das contas acho que ela gosta disso, afinal deve ter acostumado com a filha revirando suas coisas até encontrar a roupa que saía vestida, bem feliz.
A descoberta das tintas, máquina de costura e aplicações: Customização sem limites.
Depois da tesoura vieram tantas outras possibilidades, então comecei a escolher blusas e camisetas lisas, que me possibilitavam a mutação e a criação de uma peça tão minha que jamais, ninguém teria igual. Foi uma fase linda, exatamente quando eu inicie o acúmulo de materiais de criação. Muitos potinhos com botões, tintas, pinceis, rendinhas, fitinhas, linhas coloridas, etc. Gavetas e caixas repletas, como é ainda hoje.
O primeiro brechó ninguém esquece!
Foi em Porto Alegre, num andar do Hipo Fábricas. Estava com uma amiga.. Lá adquiri um vestido e uma blusa, anos 70 e 80, respectivamente. Os dois, com estampas inigualáveis, sofreram algumas alterações, mas estão comigo até hoje. Afinal, eu devo àquela blusa linda que me custou apenas R$3,00 e me fez arrasar tantas vezes. Este foi o início da minha busca contínua e apaixonada por peças diferenciadas, em brechós pela via afora.
Os cursos de moda e uma possível carreira de amor.
Ao escolher a moda como caminho profissional eu abri mais ainda os olhos para o mundo e as percepções comportamentais. Foi à partir da saída do colégio que eu pude iniciar esta fase, mais tecnicamente falando. Não vou mentir, aprendi muito no SENAC, FEEVALE e eventos que participei, mas foram as pessoas com quem me envolvi/envolvo que me fizeram/fazem amadurecer e evoluir neste cenário tachado e vulgarizado por tantos (principalmente pelos próprios participantes do teatro). Foi como estudante de moda que aprendi a ser realista no mercado e foi como Francine que aprendi que a moda não tem nada a ver com o quanto se gasta com ela ou com a quantidade de marcas que compõe um guarda-roupas. Pode ser uma visão bastante romântica sobre o assunto, mas acredito fortemente na importância do consumo consciente de moda, numa moda mais pensada, com escolhas mais sinceramente apaixonadas e menos impulsivas.

Em 2009, quando casei, meu guarda-roupa se reduziu à metade do espaço, consequentemente precisei analisar o que era necessário e me despedir do restante. Acontece que mesmo consumindo menores quantidades, a cada nova peça o espaço pedia socorro. Como alternativa 1 há aquelas pessoas para as quais eu sei que posso separar e oferecer algumas coisas. Como alternativa 2 há as doações para igreja ou campanhas de arrecadação. Era isto que eu fazia... Então aquela história do inconsciente coletivo tomou conta do meu ser. Já havia tido algumas experiências em trocas e andava vendo muito disso na internet. Decidi juntar algumas roupas, bolsas, calçados e acessórios, fotografá-los e colocá-los à venda aqui no blog (onde eu já vendia acessórios..). Depois de um tempo iniciei processos contínuos de trocas entre amigas, e acredito eu, ser a melhor das opções pois alia o prazer do desapego com o prazer do novo junto a pessoas que você se identifica. Estas serão as minhas opções até que inventem alguma melhor!
Pesapegar... sim, maravilha de viver. Olha que para uma pessoa apegada ao passado, objetos e pessoas como eu, isto é uma evolução enorme. Devo muito deste processo evolutivo, vindo desde a infância, a algumas pessoas que não poderia deixar de agradecer: minha mãe, Camila Valim, Vinicius dos Santos, Lorena Botti, Aline Gonçalves, Gabriela Wobeto e Aline Ebert.

A moda é uma forma de se mostrar para o mundo, etc, etc. Seja como for, que seja com sinceridade e consciência, por favor.
Somos janelas abertas... (eu vejo você e você me vê, até por dentro)


Um comentário:

  1. Lisongeada, ao extremo, de fazer parte de tuas linhas... Nossa convivência e cachos têm nos feito muito bem, com certeza. Um beijo!

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